Rodrigo Silva, a Busca pela Verdade e o Valor da Dúvida no Judaísmo
Rodrigo Silva é uma das figuras mais respeitadas da teologia cristã contemporânea. Seu trabalho como arqueólogo, comunicador e pensador trouxe valiosas contribuições ao debate religioso inclusive aproximando muitos da história do povo judeu. Mas será que partir de uma certeza absoluta não limita a busca espiritual? Neste artigo, refletimos sobre as diferenças entre uma fé baseada em respostas prontas e o caminho judaico, onde a dúvida é não apenas aceita, mas reverenciada.
Lior Sérgio
7/23/20253 min read


A Verdade que Se Questiona: Entre Certezas e Dúvidas no Caminho Espiritual
Vivemos num tempo em que muitos buscam respostas rápidas para perguntas complexas. Em meio a esse cenário, surgem vozes fortes, articuladas, inteligentes como a do conhecido arqueólogo e teólogo Rodrigo Silva que, com domínio de linguagem e sensibilidade espiritual, procuram oferecer explicações que façam sentido para o homem moderno. E, em muitos casos, conseguem. Mas há um ponto importante a ser refletido com honestidade: até que ponto estamos realmente abertos à verdade quando já partimos do pressuposto de que ela está do nosso lado?
Rodrigo Silva e a eloquência que inspira
Não há como negar: Rodrigo Silva é uma das figuras mais brilhantes do meio cristão atual. Sua capacidade de unir história, arqueologia, fé e retórica o torna um comunicador ímpar. Ele apresenta temas profundos de maneira acessível, respeitosa e intelectualmente estimulante. Muitos judeus, inclusive, reconheceram o seu valor ao lançar luz sobre a arqueologia bíblica com precisão e paixão.
Rodrigo também tem um papel relevante na divulgação de elementos históricos que contribuem, de forma indireta, para a valorização da tradição judaica. Sua postura respeitosa diante do povo judeu é notável mesmo que as interpretações teológicas o levem por outros caminhos. Justamente por isso, este artigo não é uma crítica destrutiva, mas sim um convite ao aprofundamento filosófico que pode enriquecer ainda mais o legado que ele já construiu.
No entanto, como acontece com muitos líderes religiosos de diversas tradições existe um fator que limita o alcance das suas reflexões: ele já parte da certeza de que a visão adventista é a correta. O problema não está na fé em si, mas no fato de que, ao se prender a uma estrutura doutrinária rígida, qualquer possibilidade real de revisão profunda é neutralizada antes mesmo de começar.
A diferença entre pensar dentro de um sistema e questionar o sistema
Esse é o ponto central. Muitos pensadores e pregadores cristãos sinceros, inteligentes, bem-intencionados estão, sem perceber, presos à lógica circular de seus sistemas: tudo é interpretado à luz do que já foi previamente aceito como “a verdade absoluta”. A Bíblia é verdadeira porque a própria Bíblia diz que é verdadeira. Jesus é o Messias porque as profecias (interpretadas pela ótica cristã) apontam para ele. O sábado é o selo da salvação porque o sistema adventista o declara como tal. Tudo gira dentro de uma estrutura já montada.
Essa forma de pensar tem força emocional, gera convicção e pode inspirar vidas. Mas não é uma busca filosófica livre pela verdade. É uma defesa de um edifício teológico que não pode ruir.
A abordagem judaica: onde a dúvida é sagrada
No judaísmo tradicional, especialmente na tradição rabínica, encontramos algo notável: a dúvida não é um inimigo da fé é parte essencial do caminho espiritual. Os sábios judeus ensinaram que é preciso questionar tudo, inclusive a própria noção de Deus, para chegar a uma fé verdadeira. A Torah não é um livro de respostas prontas é um livro que ensina a fazer as perguntas certas.
O Talmud, por exemplo, é uma obra monumental composta basicamente de discussões, discordâncias, argumentos opostos. E ali, muitas vezes, a conclusão é: “Este disse uma coisa, aquele disse outra... e seguimos em dúvida”. E isso não enfraquece a fé isso a humaniza.
Enquanto em muitos círculos religiosos a dúvida é vista como fraqueza ou falta de fé, no judaísmo ela é sinal de maturidade. O crente maduro não é o que grita mais alto suas certezas é aquele que permanece humilde diante do Mistério.
A honestidade que transforma
Não se trata de desvalorizar os que vivem com certezas como muitos pastores e pregadores mas de lembrar que a verdadeira espiritualidade começa quando temos coragem de dizer: “E se eu estiver errado?”
Rodrigo Silva, com toda sua inteligência e integridade, poderia ir ainda mais longe se, num exercício radical de sinceridade intelectual, abrisse espaço não só para defender sua fé, mas para questioná-la com profundidade. Isso não o tornaria menos crente o tornaria um buscador ainda mais honesto.
Caminhar com perguntas
Talvez o maior perigo espiritual de nosso tempo não seja a falta de fé, mas o excesso de certezas. O fanatismo nasce onde a dúvida foi banida. E a sabedoria, por outro lado, cresce onde o ser humano aprende a viver com perguntas.
A tradição judaica nos convida a isso: a caminhar, a duvidar, a reconstruir, a ouvir outras vozes. Porque só assim podemos nos aproximar de algo que não seja uma repetição daquilo que já acreditamos mas sim uma verdade viva, dinâmica, que nos transforma.