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O Perigo da Neutralidade

A neutralidade parece ser uma escolha segura. Mas em certos contextos, optar por “não se meter” é, na verdade, uma forma de tomar partido. Neste artigo, exploramos o perigo de se calar diante da injustiça, com um olhar que leva até ao conflito Israel–Palestina.

Lior Sérgio

7/16/20252 min read

three men and one woman soldiers standing on rock during daytime
three men and one woman soldiers standing on rock during daytime

Quando o silêncio se torna um lado

Vivemos numa era em que muitos preferem o silêncio à responsabilidade.
Quando surgem conflitos pessoais, sociais ou internacionais há sempre quem diga:

“Eu não me meto, não quero saber, só quero paz.”

E a frase até soa sensata. Afinal, quem é que não quer paz?
Mas há momentos na vida, e na história, em que ser neutro é uma forma de escolher um lado.

A falsa segurança da neutralidade

Ser neutro parece confortável. É como ficar no meio da ponte sem atravessar para nenhum lado.
Mas o que acontece quando um dos lados está a sofrer? Quando alguém está a ser oprimido, enganado ou destruído?

Imagine o seguinte:

Um casal vizinho discute constantemente.
Você ouve os gritos e pensa:

“Não me meto, é entre eles.”

Semanas depois, descobre que aquela mulher era vítima de violência há anos.
A sua neutralidade foi, sem querer, uma ajuda ao agressor.
O seu silêncio deu tempo, espaço e impunidade ao lado mais forte.
E isso, meu amigo, é uma escolha moral.

Opinar sem saber é tão perigoso quanto calar

Outro fenómeno moderno é a opinião apressada e sem estudo.
Hoje, basta ver dois vídeos emocionais no TikTok para tomar partido.
As pessoas querem paz mas tomam decisões com base em manchetes, memes e frases feitas.

Querem justiça mas não investigam o que está por trás dos conflitos.
Agem com o coração… mas ignoram o cérebro.

Neutralidade em conflitos assimétricos não é justiça

Em muitos casos, há simetria.
Em outros, há uma parte com poder e outra com intenção.
Às vezes, quem parece mais fraco grita mais alto para esconder a sua violência interna.
E quem se defende, é visto como agressor… porque sobrevive melhor.

É por isso que há conflitos em que a neutralidade não é imparcialidade é irresponsabilidade.

Israel e Palestina: quando o mundo escolhe fechar os olhos

Chegados aqui, é impossível não tocar no conflito que tem dividido o mundo: Israel e os palestinianos.
Muitos dizem:

“Não tomo partido, quero apenas paz.”
Mas a realidade exige mais do que frases bonitas.

Israel é uma democracia rodeada de ditaduras.
É uma nação que, apesar dos seus erros, procura coexistência, liberdade religiosa, e justiça interna.
Do outro lado, está uma organização o Hamas que não quer um Estado ao lado de Israel, mas no lugar de Israel.
Uma organização que mata, viola, queima e ensina crianças a odiar.

E quando o mundo diz “não nos metemos”, está a dizer, sem querer:

“Continuem. Desde que seja longe daqui.”

O que diz o Judaísmo sobre a neutralidade?

O Talmud (Shabat 54b) é claro:

“Quem pode protestar contra o erro da sua casa e não o faz, é responsável.
Quem pode protestar contra o erro da sua cidade e não o faz, é responsável.
Quem pode protestar contra os erros do mundo… também é responsável.”

No Judaísmo, ficar calado quando se tem voz é um erro grave.
Neutralidade em tempos de injustiça não é pureza é passividade disfarçada.

Conclusão: a coragem de se posicionar

Não estamos a pedir para odiar, nem para atacar.
Estamos a pedir para ver com clareza.
Para perceber que há contextos onde o silêncio alimenta o mal.
E há momentos em que o mais espiritual que se pode fazer…
… é tomar posição.

Como disse Elie Wiesel:

“A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima.
O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado.”