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Judeus Messiânicos: A Difícil Transição Entre Jesus e o Judaísmo

Descubra por que muitos ex-cristãos sentem dificuldade em abandonar a figura de Jesus ao se aproximarem do judaísmo, e o que os rabinos dizem sobre o fenômeno dos judeus messiânicos.

Lior Sérgio

7/23/20253 min read

Judeus Messiânicos: A Difícil Transição Entre Jesus e o Judaísmo

Uma das transições mais delicadas e desafiadoras no caminho espiritual de quem se afasta do cristianismo e se aproxima do judaísmo é o abandono da figura de Jesus. Este processo, que envolve emoções profundas, dúvidas teológicas e anos de formação religiosa anterior, está entre os maiores desafios apontados por rabinos experientes.

O rabino português Shlomo Pereira, com quem tive o prazer de conversar pessoalmente, expressou essa preocupação: muitas pessoas, especialmente em comunidades brasileiras, aproximam-se do judaísmo, mas não conseguem deixar totalmente para trás a figura central do cristianismo. Como resultado, surge um fenômeno crescente: o dos chamados "judeus messiânicos".

Judeus messiânicos e a permanência de Yeshua

No centro desse movimento está a figura de Yeshua (nome hebraico frequentemente usado para se referir a Jesus). Embora se aproximem das práticas judaicas, muitos desses grupos continuam a ver Jesus como o Messias, mantendo suas crenças cristãs dentro de uma roupagem judaica.

Tive uma conversa com um conhecido que se identifica como judeu messiânico. Ele disse algo curioso: "Assim como vocês seguem os vossos tzadikim, nós escolhemos seguir Yeshua como nosso tzadik."

A frase pode até soar lógica num primeiro momento. De fato, no judaísmo, seguimos os ensinamentos e o exemplo de grandes sábios, conhecidos como tzadikim (ṭadik, justo). Cada comunidade pode ter um mestre de referência, como o Lubavitcher Rebe, Rabino Ovadia Yosef, entre outros.

Mas existe aqui uma diferença essencial.

A diferença entre tzadikim reais e personagens duvidosos

Os tzadikim seguidos no judaísmo são figuras historicamente comprovadas. Deixaram obras, responsas haláchicas, ensinamentos escritos e uma tradição oral sólida. Não há dúvidas sobre sua existência ou influência.

Com Jesus, por outro lado, encontramos um panorama nebuloso. Não existe uma prova histórica concreta da sua existência, e os relatos que temos estão envoltos em contradições, doutrinas posteriores e interpretações muitas vezes desconectadas do contexto judaico original.

Como poderia HaShem, o D'us de Israel, deixar uma mensagem tão importante através de meios tão ambíguos e geradores de confusão?

D'us não se revela em confusão

A tradição judaica ensina que D'us não se revela no caos. A revelacão de HaShem é clara, como no Monte Sinai, onde milhões de pessoas testemunharam juntas a entrega da Torá.

Essa é uma diferença fundamental. A Torá foi dada a um povo inteiro, não a um indivíduo. O testemunho foi coletivo e repetido ao longo das gerações. Já o cristianismo nasceu de visões individuais e relatos posteriores. A própria figura de Jesus é objeto de disputa: uns dizem que ele é o Messias, outros dizem que é Deus, outros que foi apenas um profeta. Há quem diga até que ele nunca existiu. Que revelação é essa, que deixa tantas dúvidas?

O Talmud sobre falsas messianidades

O Talmud (Sanhedrin 97b) alerta sobre os falsos messias que surgiriam antes do verdadeiro. Vários movimentos messiânicos já existiram ao longo da história judaica. Todos falharam, inclusive o de Jesus. A definição haláchica de um Messias inclui restaurar o Reino de Israel, trazer paz mundial e fazer com que todos os judeus cumpram a Torá. Nada disso aconteceu com a vinda de Jesus, e sim o contrário: perseguições, cruzadas, inquisições, expulsões e muito sangue judeu derramado em seu nome.

A necessidade emocional de um intermediário

O apego a Jesus, mesmo dentro do judaísmo messiânico, muitas vezes revela uma carência emocional. A figura de um salvador que "sofre em nosso lugar" é confortante. Mas no judaísmo, a relação com D'us é direta, madura e exige responsabilidade. Não há atalhos. Cada um responde por suas escolhas, e o arrependimento sincero (teshuvá) é acessível a todos sem precisar de intermediários.

Uma espiritualidade adulta e consciente

A verdadeira transformação espiritual exige deixar para trás o conforto das ilusões. A maturidade espiritual não vem com promessas fáceis, mas com escolhas difíceis. O judaísmo, com sua exigência de estudo, prática e responsabilidade pessoal, pode parecer mais difícil à primeira vista. Mas oferece um caminho honesto, sólido e milenar.

Conclusão: com amor, mas com verdade

Este artigo não é um ataque a quem vive em transição espiritual. Muito pelo contrário: é um convite à honestidade intelectual. É compreensível que alguns precisem de tempo para se libertar de referências antigas. Mas é preciso reconhecer que Jesus não está alinhado com o pensamento judaico, nem com a esperança messiânica descrita nas profecias.

Buscar a verdade é um processo. E a verdade não teme perguntas.

Que cada um possa seguir sua jornada com coragem, sinceridade e profundidade. E que possamos sempre lembrar: HaShem não é Deus de confusão, mas de verdade.